A greve da UNESP e as lutas contra a implantação da Universidade Neocolonial

Por  Henrique Tahan Novaes – Presidente da ADUNESP  -SS. Marília

Cem anos atrás, na cidade de Córdoba (Argentina), eclodiu a Reforma Universitária de Córdoba. Uma ala dos estudantes e professores defendia que a Universidade deveria se libertar do domínio secular da Igreja Católica e se adequar ao capitalismo de bases industriais e nacionais. Outra ala defendia a retirada da Universidade do controle do Estado, sendo colocada a serviço dos explorados. O debate e as ações dos professores e estudantes ajudaram a difundir inúmeras propostas de Universidade Popular, principalmente no Peru e em Cuba.

No Brasil dos anos 1930, as Universidades foram criadas tendo em vista a formação de quadros para a Empresa Estatal e para as Empresas privadas dentro do Projeto “Nacional Desenvolvimentista”. Dentro dessa luta, havia setores republicanos e laicos que queriam arrancar da igreja o controle da Educação e assim formar nosso sistema público de educação.

A destruição da mal construída república começa em 1964, principalmente através da expansão com precarização do Ensino Médio. A ditadura civil-militar dá o primeiro impulso na mercantilização do Ensino Superior. A UnB, símbolo do projeto de capitalismo mais autônomo e com livre determinação da ciência, perde 80% dos seus professores, em função das investidas da ditadura. A reversão só não foi total em função do projeto industrializante (“Brasil Grande Potência”) dos militares. Nesse período, é possível destacar importantes centros de pesquisa vinculados as estatais (Eletrobras, Petrobras, etc.).

Com a vitória de Fernando Henrique Cardoso e seu projeto liberal, o destino da Universidade Pública é colocado em risco. Sucateamento crescente e congelamento de salários passam a fazer parte da vida universitária. Na outra ponta, um crescimento exponencial do Ensino superior privado.  Em função das privatizações telefonia, energia elétrica, gás, abertura das ações da Petrobras e Banco do Brasil, os centros de pesquisa e institutos de pesquisa ficam à deriva.

Com o projeto melhorista do lulismo houve uma certa expansão do Ensino Superior Público, através da criação de cerca de 50 novas Universidades Federais. Em contrapartida, surgiu o Minha Casa Minha Vida da Educação, chamado PROUNI.  Destinando somas significativas dos fundos públicos para as corporações educacionais, o PROUNI turbinou a educação privada.

Com o golpe de 2016, o Brasil sai da Era Liberal e entra na Era Ultraliberal, passando a universidade por uma nova adequação.  O ilegítimo Temer coloca o país em liquidação, promove mudanças substantivas como a “PEC do Teto”, reformas trabalhistas, etc.

A Universidade da Era Ultraliberal é a universidade neocolonial. Plinio de Arruda Sampaio Jr nos lembra que o país voltou a se transformar num grande fazendão produtor de soja, cana, eucalipto, exportador de minério de ferro, etc. cabendo a universidade pública adequar-se a este fazendão exportador de produtos primários.