A humanidade evoluiu muito a partir da chamada revolução verde, que conseguiu ampliar o controle sobre as espécies de plantas e aumentar ainda mais a capacidade de produção e distribuição de alimentos. No entanto, isso trouxe alguns problemas, como a drástica diminuição na variedade de plantas e frutos, substituídas por gêneros mais fáceis de serem cultivados. É sobre essa situação e seus desdobramentos que o pesquisador Pablo Forlan Vargas, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), discorre no seguinte artigo.
Da domesticação das espécies alimentares à revolução verde: E agora?
Durante 10 mil anos de agricultura, as comunidades agrícolas foram procedendo à domesticação das plantas, transformando-as de silvestres, em plantas domesticadas. Toda essa mudança foi obtida apenas pela seleção empírica, realizada pelas pequenas comunidades agrícolas e continuada por centenas ou milhares de gerações, que não detinham os conhecimentos de genética hoje disponíveis sobre a herança dos caracteres. Tal fato atesta o enorme potencial da variabilidade genética existente nas espécies.
Até o final da idade média a população, em sua maioria vivia no campo, praticando uma agricultura que ia pouco mais que a subsistência, no qual o camponês dominava todo o processo produtivo, havendo, no entanto, grandes restrições da oferta de alimentos. A partir do século XVI, houve a introdução das batatas das Américas, alimento mais energético por unidade de área ao que existia até então. O cenário europeu sofreu mudanças drásticas. A partir de então, torna-se possível um processo de migração de uma população agrícola-rural para urbano-industrial.
Aliado as novas técnicas agrícolas e implementos desenvolvidas ao longo dos séculos XVIII e XIX, tais como a semeadeira, o arado de ferro e a rotação de culturas, o modelo agrícola foi reajustado, ou seja, produzir em maior quantidade e de forma eficiente para alimentar a população nos centros urbanos tornou-se possível.
Após a segunda grande guerra, alterou-se o cenário geopolítico mundial, sendo então proposto um novo modelo de desenvolvimento agrícola pelos países desenvolvidos, a Revolução Verde. Essa revolução passava necessariamente pela adoção de um “pacote tecnológico”, utilizando equipamentos para mecanização, fertilizantes químicos e sementes melhoradas.
O uso de cultivares melhoradas proporcionaram aumentos substanciais nas produtividades agrícolas, desta forma, os programas de melhoramento genético foram, e ainda são, um dos pilares das altas produtividades da agricultura brasileira. Contudo, para obter expressivos ganhos genéticos com as novas variedades, houve perda gradativa da variabilidade genética, pois os programas de melhoramento selecionam genótipos superiores baseado em atributos correlacionados somente com produtividade baseado no “pacote tecnológico” adotado.
No entanto, esse paradigma deve ser alterado, uma vez que a sociedade está em busca de alimentos com teores elevados de compostos bioativos, de melhor sabor, que sejam produzidos de forma sustentável e que sejam adaptados aos diferentes locais e modos de cultivo.
Para tais objetivos, e outros que poderão surgir, deve se recorrer a variabilidade existente dentro de cada espécie de plantas. Variabilidade essa que foi diminuída em função da forma em que foi conduzido o desenvolvimento agrícola pautado na Revolução Verde.
Desta forma, é de extrema importância que ações do poder público venham no sentido de criar repositórios genéticos, por meio de banco de sementes, que assegurarão a manutenção da variabilidade ainda existente dentro de cada espécies alimentar e, desta forma, garantir a soberania e segurança alimentar, sobretudo de agricultores campesinos.
Por: Pablo Forlan Vargas