Estudo da FAO mostra dados sobre impactos nas políticas de combate à fome
Por Solon Neto
No dia 02 de Agosto de 2016, durante o encontro da Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos (CELAC) em Santiago de los Caballeros, na República Dominicana, foi divulgado um estudo conjunto entre a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Comissão econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), com dados importantes sobre o impacto das mudanças climáticas sobre a segurança alimentar no Caribe e América Latina. O encontro também serviu para o avanço na implementação do “Plano para a Segurança Alimentar, Nutricional e Erradicação da Fome 2025” do CELAC.
Para os autores do estudo, três fatores são fundamentais para a importância da mudança climática na América Latina: a dependência econômica sobre a agricultura; a baixa capacidade de adaptação de suas populações; e a posição geográfica de alguns de seus países.
A agricultura é o setor mais afetado nas mudanças climáticas, o que é um problema e tanto na região, em que, segundo os autores, o setor responde a 5% do PIB, 23% das exportações regionais e 16% de toda a população economicamente ativa.
Segundo a FAO, nos últimos 20 anos a América Latina e o Caribe foram as regiões do mundo que conseguiram mais avanços no combate à fome em direção à Segurança Alimentar. As mudanças climáticas, no entanto, trarão desafios maiores para a continuidade desse processo.
A segurança alimentar será ameaçada em pelo menos três das regiões mais afetadas pela mudança, como aponta o estudo; a região Nordeste do Brasil, parte da região dos Andes e também da América Central. Paraguai, Honduras, e Nicarágua, países cujo setor de agricultura deverá sofrer o maior impacto também enfrentarão desafios em relação à segurança alimentar.
“O desafio para a região é considerável: como continuar o processo positivo de erradicação da fome enquanto o efeito da mudança climática nos sistemas produtivos se torna profundo e mais notório?”, indagou Raul Benitez, representante regional da FAO, durante o evento da CELAC, como destacou o site da organização.
Nesse processo, além de políticas necessárias, estima-se que será preciso o emprego de 0,02% do PIB regional para financiar as transformações. Tanto o CELAC quanto o novo Forum dos países Latino Americanos e Caribenhos para o Desenvolvimento Sustentável poderão ser importantes para a processo.
Pouca poluição, muito impacto: transição para agricultura sustentável
A região discutida é especialmente vulnerável às mudanças climáticas, no entanto é uma das que menos contribui para as emissões de gases. Apesar disso, o setor alimenta as emissões, e o CELAC aconselha as regiões fazerem uma transição para um tipo de agricultura sustentável de forma econômica e social.
Algumas das produções mais afetadas serão as de milho, açúcar, batatas e cana de açúcar.
A mudança no padrão das chuvas também afetará a segurança alimentar. Algumas áreas, como o “corredor seco” na América Central, já têm problemas sérios de segurança alimentar. Cerca de 3,5 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária e 1,5 milhão vivem sob insegurança alimentar, muitas vezes severa. Guatemala, Honduras e El Salvador são os países mais afetados, e com as mudanças climáticas podem ter problemas maiores à vista.
Cada grau Celsius de aumento gerará também cerca de 7% de crescimento em chuvas fortes. Esse aspecto trará consequências como a intensificação do processo de erosão e danos às plantações.
Segundo o documento, a erradicação da fome na América Latina e no Caribe se dará através de uma mudança de paradigma, com um modelo completamente sustentável de agricultura que proteja os recursos naturais, gere desenvolvimento sócio-econômico de forma equitativa e que permita a adaptação e o impedimento das mudanças climáticas.