NUTRICAST UNESP – Como a globalização influência no surgimento de doenças crônicas não transmissíveis através da alimentação

Por Raíssa Medeiros Silva

 

A população mundial possui algumas questões boas em comum, uma delas é a alimentação. E vai muito além de apenas saciar a fome, envolve questões econômicas, políticas de cada país, sociais e culturais. Existem muitos fatores, a alimentação é um verdadeiro patrimônio.

Quando surgiu a globalização, todas essas questões foram muito mais difundidas, então houve maior facilidade na difusão de informações, produtos e interações culturais. Essa questão então trouxe um impacto, que foi percebido lentamente, o distanciamento humano em relação aos alimentos. Isso, foi cada vez mais evidenciado com o tempo. Certamente você já conheceu alguém que tardiamente descobriu qual era o processo para que o leite fosse vendido em uma caixinha ou então, que não conhecia ou não sabia distinguir alimentos in natura. Esses são alguns dos impactos da globalização na alimentação das pessoas, que precisamos reverter.

E portanto, também com a globalização, a população mundial possui alguns problemas em comum, um deles vem crescendo em muitos locais no mundo e afetando diretamente na saúde, são os maus hábitos alimentares. Este, vem sendo reforçado com alimentações ricas em gorduras, açúcares e sal e pobres em frutas e vegetais. Diante deste quadro, sabemos também que existe maior propensão ao surgimento de algumas comorbidades, como: pressão arterial elevada, diabetes mellitus, Índice de Massa Corporal (IMC) acima da normalidade, doenças cardiovasculares, entre outras. Estas comorbidades, são geralmente conhecidas como Doenças Crônicas Não Transmissíveis e de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, em 2004, no Brasil, elas representaram mais de 62% do total de óbitos no país. E as doenças que mais impactaram foram: doenças cardiovasculares, o câncer, o diabetes mellitus e as doenças respiratórias crônicas.

A globalização quando surgiu, trouxe muitas inovações e facilidades, isso não podemos negar. Mas trouxe modificações na vida urbana, que exigem tempo, recursos financeiros, local, programações de compras, etc. Essas questões, quando não estão alinhas, se tornam cada vez mais destrutivas para a saúde das pessoas. Todas essas questões, levam as pessoas a consumirem alimentos ultraprocessados, porque estes geralmente são mais acessíveis, tanto em relação a disponibilidade quanto do preço.

Os efeitos da globalização nas inovações tecnológicas na alimentação da população, se atrelados a melhora da saúde, poderiam ter seguido outro rumo, ao invés de gerarem produtos ultraprocessados que estão dentre os principais fatores para o surgimento das doenças crônicas não transmissíveis, poderiam ter focado em desenvolver tecnologias e otimizar processos relacionados a produção de alimentos in natura e otimizando o processo para uma logística cada vez mais eficaz e com menos desperdícios. O próprio relatório da Organização Mundial da Saúde sobre a Promoção do consumo de frutas e hortaliças em todo o mundo feito em 2003 menciona que “seria necessário haver uma literatura de revisão em relação as questões agrícolas e identificação de lacunas de pesquisa a respeito da produção, distribuição e a disponibilidade das frutas e dos legumes”. Afinal, se toda a cadeia de produção e distribuição, com toda a tecnologia disponível, estivesse de fato funcionando, teríamos alimentos in natura com valores mais acessíveis e até sendo possível doar para pessoas que não tem acesso ou condições econômicas para comprar. De acordo com o IBGE, em 2020 quase 52 milhões de pessoas no Brasil, vivem na linha da pobreza.

Levando em consideração um pouco de tudo o que comentei, algo não faz sentido e essa é a questão que nós aqui precisamos resolver: Por que, com tantas riquezas de pesquisas e conhecimento, ainda faltam o básico? O que nós como cidadãos podemos e devemos fazer?

 

Raíssa Medeiros Silva

Podcast elaborado para a disciplina “Teoria e Prática da Comunicação” – Curso de Nutrição do Instituto de Biociências de Botucatu – UNESP