NUTRICAST UNESP – Hábitos alimentares na adolescência: Qual o papel da família?

Por Ana Paula Souza da Silva

 

Segundo o Ministério da Saúde, a adolescência é o período da vida na qual os indivíduos se encontram na faixa etária dos 10 aos 19 anos. É nessa fase que se iniciam transformações importantes no corpo, na vida social e emocional e nas relações afetivas. Na adolescência o comportamento é influenciado por vários fatores, em resposta de uma busca por autonomia e criação de uma identidade própria e independente. Os lugares frequentados, a dinâmica familiar, a condição sócio-econômica, os círculos sociais e a influência dos meios de comunicação tem papel importante nesse processo e influenciam também nas escolhas alimentares.

Os hábitos alimentares na adolescência são caracterizados pelo alto consumo de alimentos ultraprocessados, que apresentam excesso de açúcar, gordura e sódio, enquanto o consumo de frutas e hortaliças é baixo. Apesar da influência circulo social ser importante no desenvolvimento desses hábitos, a família continua exercendo um papel crucial, sendo que estudos apontam que o ato de realizar refeições em família frequentemente pode agir como fator de proteção para problemas de saúde relacionados ao desenvolvimento de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão arterial e obesidade.  Isso porque fazer refeições com os pais em pelo menos cinco dias da semana está positivamente associado ao consumo frequente de feijão, frutas e hortaliças e negativamente associado com o consumo frequente de guloseimas e ultraprocessados. Além disso, o contexto familiar pode ser um ambiente de aprendizagem, no qual os pais e irmãos mais velhos podem demostrar hábitos alimentares saudáveis e ensinamentos sobre os alimentos e como prepara-los.

     

VOCÊ SABIA?

Segundo o Guia Alimentar para a População BrasileiraAlimentos ultraprocessados incluem vários tipos de guloseimas, bebidas adoçadas com açúcar ou adoçantes artificiais, pós para refrescos, embutidos e outros produtos derivados de carne e gordura animal, produtos congelados prontos para aquecer, produtos desidratados (como misturas para bolo, sopas em pó, “macarrão” instantâneo e “tempero” pronto), e uma infinidade de novos produtos que chegam ao mercado todos os anos […]”. No Guia Alimentar para a População Brasileira você também pode encontrar mais informações e recomendações sobre como desenvolver e colocar em prática hábitos alimentares mais saudáveis.

As mães são citadas como a pessoa que mais ajuda na elaboração e preparo das refeições e da escolha e compra dos alimentos, além de encorajar os adolescentes a seguirem programas de educação alimentar, sendo importante ressaltar que parentes que moram próximos, como avôs e tios, também apresentam influencia no hábito alimentar, pois pode fazer parte da rotina do adolescente ir se alimentar na casa destes.

Mas os benefícios não param por aí. As experiências de refeições compartilhadas também podem ter efeito em longo prazo, pois os comportamentos desenvolvidos na adolescência podem permanecer na vida adulta e serem passados para as próximas gerações. Portanto, as refeições em família representam um aspecto cultural importante na vida do adolescente e promove o bem estar psicológico. O ato de preparar refeições está muito ligado ao afeto e para algumas pessoas é um símbolo de demonstração de carinho, que podem estar associados à memória afetiva, um exemplo disso é a “comida de vó” que remete aos familiares uma sensação de ternura.

A qualidade da relação familiar tem impactos em vários aspectos no comportamento adolescentes, inclusive negativamente. Problemas na relação familiar, como separação dos pais ou falecimento de um familiar, podem provocar o comer excessivo e o “beliscar”. Este ato é associado a aspectos ansiosos e situações de estresse, ou de compensação quanto as dificuldades de interação social, podendo acarretar em baixa auto-estima aumento do ganho de peso, pois estes jovens podem encontrar na comida uma forma de escape para a tristeza.

Para alguns adolescentes fazer refeições junto à família poderia prejudicar a alimentação saudável, pois alguns pais incentivam o filho a comer além do que estaria satisfeito, e também podem agir como “agentes tentadores” ao oferecer e preparar alimentos que despertam o desejo do adolescente em consumir algo que prejudicaria sua saúde. Outro ponto que deve receber atenção é ao fato de que alguns pais deixam a responsabilidade de preparar as refeições para o adolescente, sendo que alguns estudos veem nessa prática algo negativo, pois o adolescente pode ter a tendência de exagerar em ingredientes que mais gosta, que nem sempre podem ser os mais saudáveis. Sendo assim, é importante que o adulto oriente como deve ser feitos o preparo dos alimentos. Em contrapartida, outros estudos veem o preparo de refeições por adolescentes como algo positivo para o desenvolvimento de autonomia.

Diante de todos esses pontos, é inegável a importância da família no desenvolvimento de hábitos alimentares de adolescentes, devendo esta atuar como uma rede de apoio ao influenciar a construção de escolhas alimentares conscientes e promover o bom relacionamento com a comida.

 

Para saber mais:

COSTA, A. L. F.; DUARTE, D. E.; KUSCHNIR, M. C. C. A família e o comportamento alimentar na adolescência. Adolesc. Saúde, Rio de Janeiro, v. 7, n. 3, p. 52-58, 2010.

GREEN, E. M.; SPIVAK, C.; DOLLAHITE, J. S. Early adolescent food routines: a photo-elicitation study. Appetite, New York, United States v. 158, 2021.

MARTINS, B. G. et al. Fazer refeições com os pais está associado à maior qualidade da alimentação de adolescentes brasileiros. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 35, n. 7, 2019.

MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretária de Atenção a Saúde. Guia Alimentar para a População Brasileira. Brasília – DF, v. 2, 2014.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Caderneta de Saúde da Adolescente. Brasília – DF, v.2, 2013.

Ana Paula Souza da Silva

Texto elaborado para a disciplina “Teoria e Prática da Comunicação” – Curso de Nutrição do Instituto de Biociências de Botucatu – UNESP