Suco de laranja auxilia na perda de peso

Beber suco de laranja pode ser ruim para a sua saúde? Essa afirmação ganhou espaço no mundo virtual em agosto passado, depois que um estudo baseado em dados de mais de 175 mil pessoas, monitoradas durante duas décadas, foi publicado na revista médica inglesa British Medical Journal. O trabalho é de autoria de um grupo de pesquisadores da Universidade Harvard. Os estudiosos dizem ter detectado uma maior tendência ao aparecimento do diabetes tipo 2 (entre 8% e 21% a mais) entre os indivíduos que consomem diversos sucos de frutas – a laranja entre elas – cinco vezes por semana.

A notícia do novo estudo repercutiu na internet brasileira, por razões mais que compreensíveis. Afinal, nosso país é o maior produtor de suco de laranja processado do mundo, e a bebida é uma das mais consumidas por aqui, graças à grande disponibilidade da fruta. O disse-me-disse foi tamanho que motivou uma réplica: no artigo “O consumo de frutas e suco e o risco de diabetes tipo 2”, a bióloga Thais César, professora do Departamento de Alimentos e Nutrição da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp em Araraquara, contestou os resultados publicados no periódico britânico. “É, sem dúvida, uma pesquisa de qualidade”, escreveu. “No entanto, [o estudo] é inconclusivo e se opõe ao conhecimento atual sobre os riscos e benefícios relativos ao consumo dos sucos de frutas”, afirma no texto, que foi publicado num site sobre agronegócios.

Thais tem elementos para sustentar esta avaliação pois, desde 2000, vem se dedicando a pesquisar os efeitos do consumo de suco de laranja sobre o organismo. Em seus experimentos, já trabalhou com os mais diferentes grupos de indivíduos: pessoas ativas, sedentárias, sedentárias colocadas em atividade física, de meia idade, jovens… Combinados, os diversos estudos revelaram muitos benefícios. As pessoas que ingerem de um a dois copos da bebida diariamente sofrem uma redução da resistência à insulina, da pressão sanguínea e do colesterol. Ao mesmo tempo, experimentam uma maior estimulação nas atividades antioxidante e antiinflamatória, que constituem um fator de proteção contra o surgimento de doenças inflamatórias e do próprio diabetes.

Os exames realizados com os indivíduos participantes dos diversos experimentos mostraram que a ingestão de cerca de um litro da bebida diariamente não alterava fatores como o peso corporal, o percentual de gordura no corpo ou a circunferência da cintura. A ausência de qualquer efeito da bebida neste aspecto intrigou a bióloga. “Cada copo de suco tem em média 120 kcal. Um indivíduo que bebia três copos diariamente, durante um experimento, estava ingerindo então 360 kcal a mais. Por que essas pessoas não engordaram? Passei a desconfiar que o suco poderia estimular a sensação de saciedade, fazendo com que as pessoas sentissem menos necessidade de comer”, explica.

Desse questionamento surgiu então a ideia de fazer um novo estudo, com foco nos possíveis efeitos que a bebida poderia ter no apetite. A pesquisa envolveu 37 indivíduos, que foram acompanhados por três semanas. Na primeira semana consumiram o suco fresco, preparado na hora. Na segunda, ingeriram o suco pasteurizado, tal como é exportado para outros países, e na semana final receberam um preparado especial, feito de água e de açúcar, numa composição bastante semelhante à encontrada nos refrigerantes.

Depois de ingerir a bebida, os participantes tinham seu sangue analisado, a fim de monitorar os índices de quatro substâncias: a glicose, a insulina, a leptina e a adiponectina. Estas três últimas estão diretamente ligadas à sensação de saciedade no cérebro. Os resultados mostraram que a ingestão do suco, tanto no formato natural quanto no industrializado, ocasionou variações nos níveis de insulina, leptina e adiponectina. Isso não aconteceu após o consumo da bebida controle.

No entanto, o efeito não foi homogêneo. Aqueles com peso na faixa normal se beneficiaram mais do que os que apresentavam quadros de sobrepeso e de obesidade, nos quais o funcionamento do metabolismo já sofrera alguma alteração. “Ainda não sabemos por que houve esse efeito. Acredito que a vitamina C e os isoflavonoides (compostos orgânicos de origem vegetal) presentes na fruta podem ser os responsáveis pelo efeito, pois eles não estão presentes na bebida-controle, mas isso é algo a ser mais investigado. Mas o que vimos é que, nas pessoas que têm um metabolismo normal, o suco causa saciedade”, diz.

A descoberta traz, então, uma nova dica para quem busca um estilo de vida saudável. E, o que é melhor, uma que é simples de pôr em prática. Muita gente, quando sente aquela fominha do final da tarde, recorre a todo tipo de alimento pobre do ponto de vista nutricional: bolachas, bolos, salgados, barras de chocolate etc. É nesse momento que um bom copo de suco de laranja pode ser a melhor opção. “Com o suco, a pessoa vai obter a sensação de saciedade e, junto com ela, muitos nutrientes essenciais que não estão presentes nos lanchinhos tipo snacks”, diz Thais.

Outro argumento a favor da troca do lanchinho pela bebida é que ela permite matar a fome com uma ingestão menor de calorias. Enquanto um pedaço de bolo pode chegar às 230 kcal e uma barra de chocolate às 300 kcal, um suco de laranja acrescenta apenas 120 kcal ao seu organismo. Mas Thais enfatiza que, embora a combinação de saciedade com menos calorias seja algo interessante, não se pode dizer que a bebida tenha o poder de gerar emagrecimento. Para emagrecer, é preciso uma dieta que prescreva uma quantidade de calorias inferior à que o corpo está acostumado. É possível formular uma dieta em que o suco seja usado para substituir um alimento calórico, mas o emagrecimento se deverá ao fato de a pessoa comer menos.

No entanto, já estão bem claros os indícios de que seu consumo é benéfico. “As pessoas que identificamos que bebem o suco há mais tempo e em maiores quantidades tendem a ser mais magras e a ter colesterol mais baixo. É muito interessante ver esse resultado”, diz Thais.

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por Pablo Nogueira/ Revista Unesp Ciência 48/ dezembro de 2013